Por Anderson Ferreira da Silva (Anderson Prego)

O desenvolvimento da sociedade colonial foi realizado as custas dos trabalhos de negros e negras, que eram tratados como meros objetos. Milhões de negros foram trazidos à força e irregularmente de sua terra natal, na África, para ser tornarem escravizados. Encontraram no Brasil péssimas condições de vida e trabalho. Sofreram diversas formas de violências e foram desumanizados.

O anseio pela liberdade e a luta por melhores condições de vida, foram os propulsores para a formação de Quilombos. Lugares longínquos, sem infraestrutura e que buscavam tornar toda a diversidade de etnias negras uma única raça. Para muitos senhores, pelo seu fenótipo, a população negra que veio para o solo brasileiro eram todos da mesma etnia, porém sabemos que essa importante população veio de vários locais do continente africano. Por conta desta diversidade, os negros e as negras demoraram a se organizar coletivamente.

Os quilombos eram comunidades autônomas de seres humanos escravizados, fugitivos das grandes fazendas, que buscaram romper barreiras e transformar estas comunidades em importantes organizações sociais. Somente em Palmares, um dos quilombos mais conhecidos, chegaram a viver de 15.000 a 20.000 negros e negras, organizados por núcleos e pelas lideranças. As peculiaridades dos quilombos basearam-se em construir um relevante espaço de resgate da humanidade daqueles que estavam escravizados. Produzir um resgate cultural, fortalecer a solidariedade e construir a luta unificada contra o racismo e a discriminação racial.

Após a “abolição” da escravatura, ainda passaram-se muitos anos de luta, resistência, violências e mortes, pois não foi construído um modelo de democracia racial. Observamos em muitas músicas da cultura afro-brasileira a retratação da abolição como um mito, uma inverdade e de fato ela não existiu na prática, pois os negros que eram escravizados, de uma hora para outra, foram deixados à margem da sociedade. Aqueles que outrora que eram obrigados a trabalhar, neste momento, ou se organizavam em Quilombos ou voltavam para seus antigos exploradores para trabalhar, sofrer violências e às vezes receber somente uma alimentação precária.

O Estado não foi presente na vida da população negra, durante muito tempo eles e elas eram expulsos de forma truculenta de onde viviam. Houve muitos episódios de carnificinas e aqueles que sobreviviam eram obrigados a fugir novamente para locais mais longe e buscar reconstruir sua vida e resistência. Se aos negros e negras não se destinavam nenhuma política de inserção social, como pode ter sido realizada a abolição. Neste sentido, a falta de justiça social na “abolição” explica-se com a presença massiva da população negra nas periferias, favelas e regiões metropolitanas. É notório que pouco se mudou de lá para cá. As mulheres negras ainda servem as elites brasileiras com trabalhos domésticos, de limpeza e como cuidadoras de crianças. Os negros ainda trabalham com serviços braçais e insalubres. Não bastasse esta situação, ainda persiste a exclusão educacional, de amparo á saúde, a falta de habitação, a falta de acesso a direitos elementares e nega-se a contribuição da cultura africana e afro-brasileira na formação do país.

Outro fator relevante são os altos índices de assassinatos de jovens negros, se tornando a principal causa de morte na faixa etária de 15 a 29 anos no Brasil, chegando a índices alarmantes e considerado genocídio da população negra.

A violência atinge principalmente os jovens negros, do sexo masculino, moradores de periferia e de áreas metropolitanas. O jovem negro tem 2,5 mais chances de ser assassinado do que os jovens brancos. Segundo o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde mais da metade (53,3%) de cerca 50.000 vítimas de homicídios em 2010 eram jovens, dos quais 76,6% eram negros e 91,3% do sexo masculino. A violência é tão grande no Brasil que morre mais aqui do que nas 12 maiores zonas de guerras espalhada pelo mundo, isto é uma grande violação dos direitos humanos. Somado aos grandes números de homicídios, temos o baixo índice de investigação, que não passa de 8% de todos os casos apresentados acima.

Este é o resultado da falta de investimento de políticas públicas nas mais diversas áreas, da indiferença social e da criminalização da pobreza, bem como as desastrosas políticas de combate as drogas, todas proibitivas, racistas e violentas. O que vivenciamos diariamente na sociedade é que a juventude negra e empobrecida tem arcado com as maiores consequências da violência e do racismo institucional. Por isso não se pode comemorar o dia 13 de maio como algo benéfico aos negros. Devemos sim garantir ações e reflexões que perpasse o dia 20 de novembro e que demonstre a contribuição da cultura, da religião e dos costumes da população negra para a formação deste maravilhoso país.

20/11/2015

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